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Resenha: Uns Braços

Paixão sob duas perspectivas

Publicado originalmente na Gazeta de Notícias (05/11/1885) já na maturidade do escritor, e, posteriormente em 1893, no volume de contos intitulado Várias Histórias, o conto possui ar romântico onde ao longo da narrativa envolve o leitor enquanto a trama não se desfecha, marcando a oposição fantasiosa e realista, constando-se que as políticas sociais prevalecem sobre o querer individual.


Machado de Assis é considerado o maior nome da literatura nacional. Dentre suas obras, encontram-se diversos gêneros, dentre eles os contos, onde Machado, após publicação de grande sucesso, Memórias Póstumas de Brás Cubas, encontra-se em uma posição mais madura acerca da literatura. Mantendo seu caráter realista, o conto a ser tratado "Uns Braços" encontra-se a seguir.


Tratemos de forma resumida, sob o risco evidente de simplificação, do enredo de Uns braços. Inácio, rapaz de 15 anos, filho de um barbeiro, é colocado pelo pai como estagiário de Borges. Este vive maritalmente com D.Severina, e abriga Inácio em sua casa, irritando-se constantemente com as distrações do moço. A verdade é que Inácio se apaixona por D. Severina; se encanta especialmente com os braços da jovem senhora. Quando percebe os olhares de Inácio, a mulher passa ao conflito: ele ainda é muito jovem, ela é uma mulher comprometida. Mas são apenas olhares. Em um domingo Borges sai de casa, e D. Severina observa que Inácio dorme suavemente na rede. O rapaz está a sonhar com ela e, neste instante se dá uma incrível coincidência: ao sonhar com o beijo de D. Severina, Inácio é realmente beijado pela mulher. Depois do ato impulsivo, D. Severina passa a se reprimir pelo que fizera e passa a tratar o rapaz secamente e a cobrir os braços com um xale. Inácio, ainda mais distraído da realidade com seus sonhos, não percebe a mudança da senhora. Após uma semana, Borges irá dispensá-lo sem nenhum sinal de rudez, embora não permita que Inácio se despeça de Severina, alegando que ela estaria com muita dor-de-cabeça. Os anos se passam e Inácio nunca teve sensação igual à daquele beijo, que para ele não passara de um sonho.


Dentro da tradição Realista, o conto privilegia o cenário doméstico da família burguesa, na segunda metade do século XIX: “Passava- se isto na Rua da Lapa, em 1870.”. O episódio em questão suscita a temática do adultério feminino, ainda que de forma extremamente sutil, se comparado àqueles relatados em Madame Bovary (1857) ou em O Primo Basílio (1878).

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