Resenha: A Desejada das Gentes
Chame-lhe monstro, se quer, mas acrescente divino
A Desejada das Gentes foi publicado em 1896, integrando a obra Várias Histórias. O conto é narrado pelo protagonista, o Conselheiro, que andava pela Glória quando passa pela casa que já fora de Quintília, o que lhe trouxe a memória várias lembranças.
Conta que a moça era muito bela, tinha trinta anos, rica, morava com o tio e era a mais cobiçada por todos os homens, mas não era seu desejo casar-se. O Conselheiro tinha um grande amigo, João Nóbrega, eram ambos muito próximos de Quintília, mas nunca pensaram em namorá-la, até o narrador ouvir várias pessoas vangloriarem-na. Os dois fazem uma aposta de quem fica com a mulher, e acabam se apaixonando por ela.
Os amigos ficam brigados, enganando um outro e afastados, culminando no fim da amizade. João definha e acaba morrendo, deixando o protagonista e os pretendentes na briga pela conquista de Quintília. O Conselheiro morria de ciúmes por ela, e não controlava seus sentimentos, embora, segundo ele, ela a preferia dentre todos os homens.
O pai do Conselheiro morre e Quintília o consola. Tempos depois o tio dela morre, e o narrador vê isso como um convite matrimonial. Ele a pede em casamento, e ela recusa, dizendo que quer apenas amizade, deixando o Conselheiro arrependido, aborrecido e afastado dela. A moça o envia uma carta pedindo o reatamento da amizade e prometendo não se casar com ninguém mais. Os dois ficam próximos novamente e mais íntimos, mas Quintília acaba adoecendo. Dois dias antes da morte dela, os dois se casam. O Conselheiro conta que a única vez que se abraçaram foi com ela morta.
O conto traz uma profunda análise psicológica do homem, como é comum em estórias de Machado de Assis. Através de um grande realismo o autor mostra várias características humanas, como o ciúme e a paixão que o Conselheiro tinha por Quintília e a cobiça que ele e o amigo tinham por ela. O conto apresenta um pouco de romantismo, como o final onde o protagonista abraça a amada já morta e algumas dualidades como o divino e o terreno. É um dos melhores contos do autor e proporciona uma ótima leitura.
