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Resenha: A Sereníssima República

A Política se faz em função da corrupção

A Sereníssima República é um conto primeiramente publicado na "Gazeta de Notícias" e que posteriormente foi incluso na obra Papeis Avulsos, de 1882.


O conto inicia-se com uma Conferência do Cônego Vargas, que introduz sua teoria, ainda incompleta, ao público presente, decide antecipar a divulgação pois um cientista inglês já teria realizado estudos nessa mesma área, e então temia que a mídia desse o credito ao estrangeiro caso não apresentasse sua superioridade na descoberta. O narrador diz ter descoberto uma espécie de aranhas que possuem uma habilidade extraordinária, tais aranhas tem uma língua própria, como pode ser visto neste trecho da obra:


"Nada, porém, se pode comparar ao pasmo que me causou a descoberta do idioma araneida, uma língua, senhores, nada menos que uma língua rica e variada, com a sua estrutura sintáxica, os seus verbos, conjugações, declinações, casos latinos e formas onomatopaicas, uma língua que estou gramaticando para uso das academias, como o fiz sumariamente para meu próprio uso."


De maneira metafórica Machado associa as pessoas com a sociedade das aranhas, de maneira crítica diz:


"A aranha, senhores, não nos aflige nem defrauda; apanha as moscas, nossas inimigas, fia, tece, trabalha e morre. Que melhor exemplo de paciência, de ordem, de previsão, de respeito e de humanidade?"


Então O Cônego Vargas continua a narrativa e ora como ele modelou uma sociedade e implantou uma república à maneira da antiga Veneza, e dotou o nome de Sereníssima República. Em tal sistema as eleições eram feitas a partir de bolas que que continham o nome dos candidatos em um saco que foi tecido pelas aranhas, com sucessivos experimentos o Cônego fala de como houve possíveis mudanças no resultado das eleições, primeiramente do saco ter duas bolas com o nome do mesmo candidato, no outro ano de que um candidato não teve seu nome inscrito na bola. O narrador também fala sobre os partidos políticos que foram criados pelas aranhas, de acordo com a forma geométrica das teias, são quatro os partidos, o partido retilíneo, o partido curvilíneo, o partido reto-curvilíneo e o partido anti-reto-curvilíneo. O Cônego fala sobre o caso de Nebraska e Caneca, no qual houve um erro na escrita no nome de Nebraska o que acometeu na falta da última letra de seu nome, então Caneca requereu a verificação da bola retirada, pois achava que não continha o nome de Nebraska e sim o seu, e com isso chamou um filólogo para provar isso, de uma maneira absolutamente absurda por final.


Com isso teve várias mudanças nas formas e dimensões do sacos. Por fim conta o discurso de Erasmus, que era encarregado de notificar a última resolução legislativa às dez damas incumbidas de urdir o saco eleitoral. Erasmus conta a fábula de Penélope:


"Vós sois a Penélope da nossa república, disse ele ao terminar; tendes a mesma castidade, paciência e talentos. Refazei o saco, amigas minhas, refazei o saco, até que Ulisses, cansado de dar às pernas, venha tomar entre nós o lugar que lhe cabe. Ulisses é a Sapiência."


O conto mostra de como as aranhas são as responsáveis por todos os seus problemas, e como as aranhas são metaforizadas aos seres humanos podemos ver que o mesmo ocorre com a sociedade, que somos dominados pelo autoritarismo social e político, e legitimamos a opressão da qual somos vítimas. Trata-se também de uma crítica as corrupções políticas e das desigualdades sociais, tais males que são análogos a condição humana.

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