Conto: A Cruz de Ouro
- Adila de Oliveira
- 11 de out. de 2015
- 3 min de leitura
(Conto de autoria da aluna)
Tião estava olhando as crianças brincando através da janela, mas sua mente se encontrava distante. Lembrara da época em que trabalhava como carregador de cargas no mercado da cidade e com a idade avançada, já sofria intensas dores na coluna e sabia que não conseguiria continuar nesse trabalho tanto tempo, precisava pensar em como sobreviver. Tião tentava ser honesto, mas a cada dia sentia mais que o mundo não era honesto com ele, sentia-se injustiçado, como se o mundo fizesse pouco dele e foi por isso que ele decidiu roubar a cruz do convento da cidade, que lhe fora doada por uma mulher antes de vir a falecer. Tião disse para si mesmo:
- O mundo me roubou tantas coisas, não faz mal eu roubar uma de volta – Tião se perguntou se não tinha pensado alto demais.
Em uma noite chuvosa, todas as freiras estavam indo para seus quartos e foi então que Tião pulou o muro, deu carne fresca aos cachorros, notou que o vigia dormia e entrou no convento. Ouvira falar que a cruz era pequena, cabia na palma da mão, mas valia uma fortuna que ele jamais ganharia trabalhando durante toda a vida. Ela ficava dentro da capela ao lado da estátua de Nossa Senhora Aparecida, fácil. Tião pegou a cruz e a escondeu no quintal de sua casa, sentia-se esperto e imbatível pois ninguém suspeitava dele.
No ano seguinte, em 1869, depois que as buscas pela cruz cessaram, Tião partiu de Barbacena e foi para o Rio de Janeiro. A primeira coisa que fez ao chegar na cidade foi comprar roupas novas com o dinheiro que tinha guardado, fizera a barba e cortara o cabelo. Parecia muito mais jovem: estava galante e arrumado. Logo depois foi a uma loja de penhores para vender a sua tão valiosa cruz.
Ao chegar na Rua da Ajuda, avistou uma mulher bonita e foi amor à primeira vista. Tião via-se apaixonado, a mulher, com aparência de uns 30 anos ou menos, passou ao seu lado e seus olhos se encontraram. Ele com o olhar apaixonado e ela quase nem notou sua presença. Tião pensou:
- Ela é bonita demais, deve estar casada e ter filhos, não iria querer um caipira como eu. – Mal sabia ele o que o destino lhe guardara.
Chegando à loja de penhores, Tião se encaminha para o homem atrás do balcão, mostra a cruz e o balconista, Lula, faz-lhe uma proposta muito abaixo do real preço da cruz. Depois de muito debater sobre o assunto Tião disse:
- Não tem problema, agradeço mas tenho que recusar a proposta. Irei procurar outro comprador. Obrigado.
- Não, não vá tão rápido, eu não tenho dinheiro o suficiente mas conheço alguém que tem. O nome dela é Dalila, ela é minha amiga, se quiser eu posso apresentá-los. O senhor gostará dela, venha à minha casa hoje para o jantar e eu os apresentarei.
Tião pegou o endereço, se despediu e saiu da loja. Sentia-se lisonjeado, achou que seria uma boa oportunidade para iniciar uma amizade e conhecer pessoas novas, mas não parava de lembrar da mulher por quem se apaixonara.
Ao chegar da noite, Tião sentia-se entusiasmado com a ideia de vender a cruz e se tornar rico. Ao chegar na casa de Lula, este o recebeu com carinho, como se fossem amigos de muitos anos. Tião sentiu-se querido, mas logo sentiu seu coração acelerar e seu rosto formigar: viu a mulher por quem se apaixonara. Lula os apresentou. Era Dalila, a mesma que Lula disse que poderia comprar a cruz. Na sala de jantar também estavam outros dois homens, um magro e alto e o outro baixo e corcunda, Albuquerque e Danias, eles acabaram de chegar de viagem e Lula os apresentou.
O jantar estava delicioso e falaram sobre economia e a vida de Tião, este disse que vinha de uma família boa e com poucos bens, porém valiosos, falou que mudou-se para o Rio de Janeiro em busca de novos investimentos para o seu dinheiro. No fim do jatar quando Dalila mostra pede para a tal preciosidade, Tião a tira do bolso e põe sob a palma da mão e este foi o seu erro. Albuquerque e Danias eram policiais de Barbacena transferido para o Rio de Janeiro, eles fizeram várias buscas no ano anterior em busca do patrimônio do convento e a igreja até ofereceu uma recompensa por quem achasse o ladrão, tudo fora um plano! Lula e Dalila sabiam que a cruz era roubada e que Tião estivera mentindo, em um segundo Tião se encontrava querido pelos amigos e no outro, estava sendo algemado por Danias enquanto via sua amada nos braços de Lula.
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