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Resenha: Confissões de uma Viúva Moça

“Confissões de uma viúva moça”, narrativa de Contos Fluminenses (1870) é um conto singular na obra machadiana, pois revela um dos poucos momentos em que o escritor utilizou-se de um narrador feminino. Eugênia, a jovem viúva do conto, escreve a uma amiga “confessando” seus deslizes amorosos quando casada.


Eugênia é uma viúva que há 2 anos deixou a corte para residir em Petrópolis. Antes de retornar, resolve escrever uma seqüência de 7 cartas, uma por semana, à sua amiga Carlota relatando o motivo de deixar a corte, com a promessa de 8 dias após a última carta ir se encontrar com a amiga.

Eugênia então conta como conheceu um homem, chamado Emílio, que tinha se tornado amigo de seu marido para frequentar a casa e cortejá-la. Emílio ia a reuniões em casa de Eugênia e seu marido, juntos frequentavam o teatro, faziam passeios, conquistando a confiança do marido, dos amigos e aos poucos conquistando o coração de Eugênia, que até então lutava com todas as forças da razão para não se apaixonar. Quando se viu apaixonada, deixou-se levar pelas juras de amor e pela embriagues que esse sentimento novo lhe causava, dizia que nunca na vida tinha amado até aquele momento. Emílio chegou a propor que fugissem a fim de viver esse amor que era reprimido, o que assustou Eugênia, mas balançou seu coração.

Na tarde que Eugênia indagava Emílio sobre como seria se ela fugisse com ele, se ele não jogaria na sua cara essa atitude ou se a olharia com desprezo depois disso, seu marido chegava mais cedo do trabalho trazido por amigos, tinha tido um ataque no escritório. Oito dias após, havia sido desenganado pelos médicos, dias depois faleceu. Emílio se pôs ao lado de Eugênia apoiando e consolando a viúva. Após 4 meses, as visitas se tornaram escassas, até que um dia soube por amigos que Emílio iria partir. Escreveu-lhe uma carta pedindo que se explicasse pessoalmente. Emílio foi vê-la e disse que a viagem seria a negócio e que voltaria logo, a partida seria daí a 8 dias. Passados 4 dias Eugênia recebe uma carta de Emílio dizendo que tinha mentido, iria partir já e que não voltaria, disse também que era homem de hábitos opostos ao casamento.


Machado queria, com essa opção narrativa e este tema provocativo, algo mais do que servir apenas de simples receituário básico para o comportamento “decente” de suas leitoras. Ainda que o conto seja narrado por Eugênia como espécie de aconselhamento a outras mulheres, é interessante a forma como ela revela, a partir da história de sedução, suas insatisfações conjugais.


Por outro lado, seus conselhos podem também se destinar aos homens, precavendo-os de outros deveres maiores no casamento. Se o conto machadiano tem valor de instrução, é certo que vale tanto às mulheres quanto aos homens, sobretudo no que diz respeito às expectativas de cada uma das partes relativas ao casamento. Nessa perspectiva, o conto assume um outro formato: o de questionador dos papéis (e das expectativas) conjugais de homens e mulheres e, mais ainda, dos próprios modos de concepção do matrimônio.

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