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Conto: Ambição e Letargia

  • Allan Gomes
  • 14 de out. de 2015
  • 7 min de leitura

(Conto de autoria do aluno)

Na década de 70, o mundo vivia a euforia com a chegada do homem a lua - quem diria que um dia chegaríamos tão longe - mas o que pouca gente sabe é que isso só foi possível graças a um duradouro e obscuro conflito ideológico no mundo, de um lado a grande potência econômica atual, os Estados Unidos da América, e do outro, a URSS, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que fora um entrave à expansão do capitalismo nas nações.


Nesse mesmo período houve uma louca corrida para demonstrar quem tinha mais tecnologia e sabe-se que quem “ganhou” essa batalha foi o Tio Sam, justamente com o advento da conquista a lua. Porém, a URSS não deixou barato, e tratou logo de revidar de uma forma muito mais contundente: na época o engenheiro-chefe do programa espacial soviético Sergei Korolev teve uma ideia que teria um impacto enorme nas estruturas econômicas e militares do mundo. Já que os Estados Unidos chegaram a lua com o único intuito de demonstrar poder, porque não explorar outros planetas e quem sabe começar um novo período que alude “as grandes navegações do final do século XV”, já que na época essa área de estudo era uma coisa bastante pertinente.


E então Korolev fez o possível para convencer Nikita Khrushchov, que na época era o líder soviético. De imediato ele achou a ideia fantástica mesmo que com um pouco de receio, já que esse tipo de plano não poderia vir à tona, pois causaria uma enorme controvérsia e também poderia ocasionar um conflito armado contra os seus rivais (EUA). Sergei argumentou que os benefícios, caso o sucesso fosse alcançado, seriam inestimáveis e dessa forma poderia até por um fim nessa tensão e tornar a URSS a potência indiscutível e assim propagar o socialismo pelo globo.


Sendo assim um grande investimento era necessário para que pesquisas e estudos fossem concretizados e dessa forma dar forma as ambições de Korolev, enquanto todo esse plano permanecia escondido a população soviética sofria com a miséria, doença e o abandono por parte do governo. E dessa forma crescia a instabilidade pública, tornando a situação social da União Soviética uma calamidade.


Com o decorrer dos anos, e o avanço das pesquisas foi descoberto uma nova forma de viajar no espaço, algo muito avançado e inovador, que nem mesmo os Estados Unidos fora capaz de produzir. Chamava-se Sputnik VIII-Z, era uma tecnologia complexa baseado no que, atualmente, é conhecido como motor de dobra espacial ou propulsão de Alcubierre que faz um campo de dobra para criar mini dobras espaciais, o que põe a nave em movimento. O espaço atrás da nave irá expandir-se rapidamente, empurrando-a para a frente. Essa descoberta soviética foi um dos marcos para pôr em prática os planos de Nikita e Korolev.


Em apenas 3 anos foi encontrado, graças aos potentes investimentos no poderio tecnológico soviético, um possível alvo de testes: um planeta hoje se chama Kepler-438b, um exoplaneta semelhante em composição a Terra e distante 475 anos-luz. Graças a estudos, a equipe de Korolev descobriu que o clima deste é também parecido com as condições da terra. Temperatura de aproximadamente -5°C e com possibilidade de existência de vida e o mais interessante no Equador do planeta foi detectado altas concentrações de Trítio, o terceiro isótopo do Hidrogênio, um material muito raro que é utilizado para gerar energia. Logo trataram de aprofundar as pesquisas em torno de Kepler-438b, que na época ficou conhecido como “Zvezda bogatstva”, algo parecido com “Estrela da riqueza”.


Com o projeto superando e muito as suas expectativas de sucesso, o então líder soviético Khrushchov, vê-se pressionado pela população, que àquela altura já via-se completamente abandonada. O povo cobrava explicações a respeito do destino do dinheiro da economia, e com as crescentes insatisfações começaram as manifestações populares por toda extensão do país. Sendo assim, Nikita viu-se obrigado a revelar publicamente o ambicioso projeto de conquista espacial. O discurso basicamente se deu a expor somente os seus benefícios de sucesso e iludiu de certa forma o povo que, entusiasmado, não se preocupou com a catástrofe política e econômica que poderia acontecer no caso de insucesso.


Mas como em toda regra, há uma exceção. Na periferia da cidade de Kiev, existia um grupo de jovens decididos a evitar o pior, ou seja, estes planejavam se rebelar contra o governo de Khrushchov. Um deles se chamava Yuri, um garoto de 19 anos, magro, alto, cabelos loiros de um forte senso de justiça e personalidade rebelde. Órfão de pai, que por sinal era o famoso Yuri Gagarin, o primeiro astronauta no espaço. E abandonado pela mãe, Valentina Goryacheva. Fora adotado por um casal de cegos pacatos e pobres. Ele ainda detinha um pertinente patriotismo embora não apoiasse o governo, sonhava em se tornar engenheiro do exército soviético para mudar os rumos da Guerra Fria. Sua vida era um completo tédio, e marcado pela miséria, a única coisa que o distraía eram seus amigos Vladimir, e Dimitri, que viviam numa condição não tão diferente da sua, uma vez que compartilhavam das mesmas ideologias.


Vladimir, ou Vlad como preferir, era um jovem Polonês que se refugiou em Kiev após a Segunda Guerra Mundial, e vivia só com a avô Sônia, uma velha rabugenta, religiosa e sovina. Vlad tinha um caráter meio dissimulado tendendo a ironia, fruto da convivência com a avó. Entre os três amigos era de longe o que mais sofria com os abusos do governo Soviético, tanto era o sofrimento que o mesmo com 18 anos, não conseguia mais frequentar a escola, pois com o corte de gastos para investimentos no projeto, teve que ser fechada.


Dimitri vivia de maneira menos sofrida, possuía uma casa própria ao contrário dos outros dois, era filho de um sargento do Exército Vermelho, e filho de uma Enfermeira. Dimitri tentava a vida com o contrabando de armas que adquiria ilegalmente com os benefícios da profissão do pai, era o mais velho do trio, contava com 21 anos, e adorava participar das manifestações contra o governo soviético.


Passam-se alguns meses e o primeiro teste usando a tecnologia Sputinik VIII-Z é realizado com sucesso e, em segredo, fizeram uma tentativa de dar a volta no globo. Como esperado, nenhum radar o detectou. Porém uma coisa ainda estava pendente para Korolev: quem seriam os pioneiros na jornada espacial? Quem controlaria e faria papel de Colombo nessa investida? Claro que não poderia ser qualquer um, como qualquer vaga de emprego fizeram um exame de seleção bastante rebuscado, mesmo desacreditando que provavelmente ninguém seria capaz de suprir as necessidades. Foram vários os candidatos, aproximadamente 5 mil, sem sucesso. Devido a isso a missão teve que ser adiada até que se encontrassem os astronautas perfeitos. Gerando uma certa desconfiança por parte de Khrushchov, que logo foi sanada, pois Sergei o convenceu de que as alternativas eram muito escassas.


Com a demora para resultados, o povo se revoltou, havendo uma grande manifestação em prol do início das explorações. Porém o governo repreendeu de forma muito violenta deixando vários feridos e muitos presos, incluindo Yuri, Vlad, e Dimitri.


O evento havia ocorrido na frente de uma das sedes do Exército Vermelho. A população foi com intenção de depredar as estruturas, mas enfrentaram forte repressão.


E os culpados pela baderna foram mandados para uma prisão de segurança máxima, localizada no subsolo de Kiev.


Lá, todos foram interrogados, torturados e mortos por desacatarem a imposição do governo. Contudo, Sergei se recusou a executar Yuri e seus amigos, uma vez que havia reconhecido de quem se tratavam os baderneiros, e o mesmo era amigo muito próximo de Yuri Gagarin, que havia morrido anos antes em um acidente aéreo muito misterioso o qual fora encoberto pelas autoridades. Porém os elementos não poderiam ser mais vistos, pois teoricamente estavam “mortos”, a saída foi integra-los no programa espacial secreto, mesmo sendo eles indivíduos sem o mínimo de preparo. Sergei acreditava que poderia mandar os jovens ao espaço como sendo uma expedição de teste, e que com certeza na volta seriam executados para guardar segredos, isso se sobrevivessem a viagem.


Yuri e seus amigos, a princípio repudiaram a oferta por questões de ideais, mas a proposta era muito boa para recusarem. Além de terem suas despesas pagas pelo governo, os meninos legalmente estavam mortos e também não tinham escolha, pois não seriam liberados pelo exército, por questões de soberania sobre o povo.


Logo então iniciaram o treinamento intensivo, foram mais de 30 semanas em regime ininterrupto, superando a exaustão física e mental, até decidirem que estavam suficientemente preparados para serem os pioneiros.


Sergei avisou a Nikita de que haviam encontrado “cobaias” para expedição e que em breve teriam resultados, o mesmo afirmou entusiasmado que mal podia esperar.


Então, a 15 de março de 1974, numa sexta comemorativa da Revolução Russa de 17, o projeto tomou forma e os três viajantes decolaram rumo ao desconhecido e gelado planeta Kepler-438b. A expectativa de duração da viagem era de 7 semanas. Os tripulantes deviam manter a sanidade mental e operar todas as instruções da base espacial de Moscou e acima de tudo as ordens de Sergei Korolev. Nas primeiras 5 semanas tudo havia ocorrido de maneira tranquila, sem muitas complicações. Mas o panorama mudou a medida que se aproximavam do seu objetivo, uma série de ataques de convulsões começou a afetar Vlad, e Dimitri começava a dar sinais de loucura, como falar frases sem sentidos ou dialetos estranhos, além de xingar no canal de comunicação da nave. Yuri parecia calmo e quieto porém muito obscuro e já sentia efeitos da convivência privada e da falta de sono. As coisas pioraram quando notaram que a comida não seria suficiente para completar a missão. Em dado momento Dimitri começou a gritar:


- ELES NOS ASSASSINARAM! NÃO VAMOS TER COMO VOLTAR!


E logo em seguida começou a falar uma linguagem estranha, e depois caiu no chão se debatendo e tentando comer o próprio braço. Korolev autorizou Yuri a matar Dimitri, antes que ele arruinasse os planos, porém ele se recusou, irritando as autoridades da base espacial.


Não demorou muito e Vlad entrou em loucura também ditando frases anticomunistas e contrárias ao governo, seu estado era muito grave de anemia profunda e com o tempo foi perdendo sua voz. O semblante dos indivíduos na 7º e derradeira semana era horrível. Eles estavam mutilados, loucos, e toda a comida havia acabado. Já não haviam mais expectativas e a única coisa que interessava a base espacial soviética eram as imagens do planeta e pelo menos certeza de que era possível chegar na superfície dele.


A nave havia aterrissado e os tripulantes foram autorizados a saírem para explorar de maneira débil a superfície de Kepler–438b. Passaram-se 15 segundos mantendo comunicação com as cobaias. Logo depois, uma mensagem seguida de um estrondo e sons de carne sendo devorada foram enviados em um código desconhecido que até hoje não tem significado.

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© Conte Aí do 2º ano de Informática 2015 da Fundação Nokia. 

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