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Conto: A casa das cinco mulheres

Referência: baseado no conto Cinco Mulheres, de Machado de Assis.

Espaço e Tempo: capital do Rio de Janeiro em 1865.


I – CAROLINA.

II – ANTÔNIA.

III – MARCELINA.

IV – HORTÊNCIA.

V – CARLOTA.


Aqui vai um grupo de cinco mulheres, diferentes entre si, partindo de pontos diversos, mas reunidas em uma mesma coleção, como em um álbum de fotografias.

Diferentemente de serem mulheres bem sucedidas, são mulheres decadentes, que em algum ponto de suas vidas falham e a todo o momento tentam se corrigir. As qualidades as diferem, os erros as unem. São todas filhas, mas não do mesmo pai, são todas irmãs, mas não de mesmo sangue. Brigam por uma mesma herança, porém apenas uma conseguirá.

Cada uma segue a vida da maneira que bem entende, sendo boas, sendo más; porém vida de mulheres é um mistério a cada esquina percorrida.


CAROLINA – É uma representação da vida serena e boa de uma senhora que a vida resolveu ignorar. Uma mulher mal sucedida no amor, porém longe de guardar mágoas. Representação óbvia da bondade humana em que Machado de Assis procurava não acreditar.

ANTÔNIA – É a mulher fútil e vulgar baseada dos romances de Machado de Assis. Espírito de Cortesã e alma completamente ambiciosa. Seu amante, Diogo Correia, é seu aliado em tudo o que faz e juntos pretendem fazer de tudo para conseguir a herança de seu pai Dom Ameixa.

MARCELINA – É uma das sutilezas mais bem construídas desse conto. Marcelina é a mocinha às avessas e pretende fazer referência a Capitu de Dom Casmurro, dando-lhe novamente o adultério como tema principal. Marcelina, enfim, é a parenta mais querida de Carolina e será capaz de trair a confiança da própria irmã, pois esconde atrás do rosto de mocinha um caráter libertino.

HORTÊNCIA – O Perfil de moça que age não por amor, mas sim por razão. Hortência guarda um segredo que todas as outras irmãs, se soubessem, poderiam a liquidar inteiramente do direito de receber a fortuna de Dom Ameixa, seu pai. Moça de belas qualidades, porém abusada de seu caráter misterioso e libertino. Possuirá intensa vida boêmia e terá dois pretendentes, Elias e Marcelo.

CARLOTA - É um perfil feminino equivocado. Uma projeção mais extensa de Sofia de “Quincas Borba”. Carlota é uma vilã sem medidas, uma irmã traíra, muito maquiavélica. Pretende passar a perna em todas suas irmãs para conseguir a herança de seu pai, sozinha. Porém o humor é notório em sua personalidade, a maioria de suas tentativas são falhas. O humor lhe traz a humanidade, mas não a livra de ser uma pessoa má.




CAROLINA

Ainda é possível se ver, em pleno século XIX, mulheres vestidas como no século passado, com bastantes panos a cobrir seus belos corpos e véus a proteger seus rostos e lábios cobertos por uma beleza incessante. Não só apenas isso as mulheres cariocas tem de interessante, mas também possuem a alta independência mesmo que a sociedade não lhes permita. Será possível, caro leitor, ver que as mulheres são capazes sim de impor suas próprias regras, mesmo que essas sejam impostas no escuro.

Na Rua Matacavalos, aqui no Rio de Janeiro, para quem passa a passeio ou a trabalho, é notório a vista de um grande casarão pertencente a um dos empresários mais prósperos do estado, o dono de lojas de tecidos D. Ameixa Augusto de Farrapos. Na região ele fora um magnífico bem feitor, ajudou os órfãos, socorreu as viúvas e deu o que comer aos mendigos da grande cidade.

A vizinhança é bem próxima na Rua Matacavalos e rumores contam que D. Ameixa adotou cinco meninas de uma tecedeira de anjos conhecida como Perpétua quando ele ainda era jovem e como não sabia cuidar de crianças resolveu, então, chamar Estela sua amiga de infância para cuidar delas. O tempo passou descaradamente e quando, em anos passados, D. Ameixa colocou seu rosto no espelho, já havia envelhecido trinta anos.



D. Ameixa pôde acompanhar toda a infância das suas cinco filhas de criação que criara como se fosse suas de sangue e a que mais lhe chamou a atenção não só pela meiguice, mas também pela inteligência e pela bondade foi Carolina, sua filha mais velha. Ela apesar de ser uma mulher muito bem formada ainda é a que mais retribui carinho ao pai que está muito doente e corre risco de morrer a qualquer momento.

Carolina é uma mulher de trinta e um anos bastante criativa, dona de si, ama o pai e cuida dele como se fosse uma mãe. – Estela não mais trabalha como empregada e sim apenas como uma governanta da casa onde mora com D. Ameixa e suas filhas – Apesar de tudo, a vida é injusta com Carolina, pois esta não tem sorte no amor. Ano passado namorou o filho de um acionista francês, que logo depois de um mês e duas semanas, a traiu com uma prostituta espanhola.

Logo após desse relacionamento conheceu Júlio, um jovem português estudante de direito da faculdade de Coimbra, filho de família burguesa que se instalou no Rio de Janeiro por questões financeiras. Esse amor foi certeiro para Carolina, pois para quem nunca tinha sentido o abraço de um homem, foram inevitáveis as tocadas volupiosas. Sim, Carolina nunca tinha sido de homem algum antes de conhecer Júlio, por isso gozou tanto a sua primeira vez.

D. Ameixa passou a combinar com Estela um testamento para suas filhas e com observação de vários momentos declarou secretamente e somente à Estela que a sessenta por cento de suas ações e patrimônios seriam para aquela filha que mais merecesse e comprovasse provas de lealdade, bondade e ética perante a tudo e a todos. Isso tinha sido dentro de um dos escritórios secretos da grande casa, porém de secreto para Antônia isso não foi. Após ter descido uma escada, ouviu um sussurro na parede e conseguiu ouvir sobre o testamento.

D. Ameixa:

- Estela, prometa-me, por todos os nossos asnos de amizade e negócios que não contarás a nenhuma de minhas filhas e a ninguém que eu estou preparando um testamento, pois a hora de minha morte está iminente?

Estela:

- Senhor, por todos os meus santos, nunca lhe faria tão mal à sua confiança em minha pessoa.

D. Ameixa:

- Agradeço-lhe a compreensão, querida amiga! Sabereis recompensar muito você quando minha pessoa vier a deitar! Respondeu meio triste.

Estela:

- Não me repita! Eu não suportaria ter grande perda! Já é a hora de sairmos daqui, pois já devem ter sentido nossa falta na casa.

D. Ameixa:

- Tem razão! Mesmo assim já lhe disse. Darei a grande parte à Carolina, pois ela é a minha única filha que sabe ter muito sem deixar a humildade lhe descer aos pés.

Até os últimos fios de cabelos de Antônia ficaram em pé quando ouviu o pai falar em herança e bens que seriam repartidos após a sua morte. Esta decidiu falar para Diogo Correia, seu namorado aproveitador, rapidamente sobre o que estava prestes a acontecer. Em ligeira escala, os dois armaram um golpe de para acabar com a reputação de Carolina perante o pai.

Na noite do dia seguinte, a Júlio bate à porta e Estela atende:

Estela:

- Seja bem-vindo, Júlio! Entre, sente-se, Carolina já vai descer!

Júlio:

- Obrigado, minha senhora! Tome para si esse buquê de flores que eu lhe trouxe.


Júlio entregou o buquê à Estela, beijou-lhe a mão, sentou-se e esperou por Carolina. Mais adiante, próximo à sala de jantar, Júlio escutou alguém aclamando: - Socorro! Alguém me ajuda! Correndo ao local encontrou D. Ameixa caído no chão. Não perderei tempo relatando o que aconteceu naquela tarde agitada, porém direi que D. Ameixa após ter se recuperado prestou muitas homenagens a Júlio e permitiu o casamento dele com Carolina mesmo antes dela comunicar que iria se casar.

Carolina estava muito feliz com a permissão cedida pelo pai, até contagiou todas as irmãs menos Marcelina, pois esta estava viajando para Paris a estudos. Hortência sabia que a felicidade de Carolina poderia ajudar o pai a se recuperar, mas também nunca descartava que tudo poderia ser uma grande farsa ou simplesmente o casamento poderia ser um fracasso. Ao comentar o fato com Antônia, mal sabia Hortência que estava entregando brechas para o plano maligno de Antônia e seu namorado Diogo.

Júlio costumava conversar com seus dois melhores amigos, Elias e Marcelo, sobre o curso, pois eles também eram formados em direito, sempre iam à casa de D. Ameixa e ficavam ali no jardim jogando papo aos céus, céus que serviam de testemunhas para qualquer assunto ali conversado. A boa desculpas para os encontros serem lá era que Marcelo e Elias queriam tentar a sorte com algumas das irmãs, porém nunca disseram de quem eles gostavam. D. Ameixa apoiava a conversa, pois queria que Marcelo e Elias fossem maridos de algumas de suas filhas tudo por conta do título de Augusto que eles também carregavam no nome.

Carolina havia se apaixonado por Júlio mesmo antes de saber que eles frequentavam seu jardim quase todas as tardes. Ela o conhecera na faculdade, quando ela fazia curso de artes plásticas. Diríamos que foi amor à primeira vista, pois estava ela no rol da escola quando seus livros caíram ao chão e Júlio a ajudou a juntá-los.

Júlio:

- Eu os pego, moça!

Carolina:

- Deixe-me, belo rapaz! Eu os deixei cair.

Júlio:

- Já peguei! Tome-os e m sua mão.

Carolina:

- Obrigada!

Júlio:

- Prazer, meu nome é Júlio Augusto.

Carolina:

- Carolina Novais. Encantada! Tu és um lindo rapaz. Diria eu que se eu te conhecesse há muito tempo não te negaria um pedido de união. Respondeu ironicamente.

Júlio:

- Não te esqueças de mim, Carolina! Digo eu que mesmo não te conhecendo já quero me unir. Respondeu confiante.

Foi após esse diálogo e mais um pouco que Carolina voltou para a casa apaixonada por um homem que ela só tinha visto uma vez na vida. E não arrependida. Queira mesmo aprofundar amizade com o belo rapaz de cabelos castanhos claros e olhos castanhos, pele branca e um lindo semblante galanteador. Parecia até mesmo um nobre cavaleiro andante como o famoso Dom Quixote. Além de possui um vocabulário riquíssimo que quase todos os rapazes vinte e poucos anos não costumam ter.

Assim os pombinhos se conheceram! Agora, voltando à história.

Carolina foi a uma cartomante saber como seria sua vida após seu casamento com Júlio e a surpresa veio à tona quando Mariana, a cartomante, contou-lhe que alguém muito próximo estaria contra ela e que sua vida seria um inferno se casasse com Júlio, e iria perder totalmente o sentido depois da morte de D. Ameixa. Carolina ainda tentou pedir mais explicações, porém Mariana se recusou a falar mais. Carolina caiu no choro, foi para casa e se refugiou no piano de calda que ela tanto gostava de tocar nos momentos de tristeza.

Carolina adiantou os processos de casório e casou-se logo com Júlio. Carolina estava muito feliz e Júlio também; eram duas metades da laranja que estavam propícias a viver até o final de suas idas juntos. Sim, D. Ameixa estava muito feliz e para completar a felicidades das irmãs, Marcelina chega de viagem bem durante a festa de casamento que estava acontecendo no casarão de D. Ameixa.

A noite de núpcias foi equivalente aos tempos de namoro, mas foi bem mais fervorosa que o primeiro gozo. Carolina beijou-se com Júlio de maneira que cada um sentia no lábios do outro o gostinho do paraíso; a cama tremia como as pernas de uma mulher em pleno momento de parto. Carolina gritava sentada no colo de Júlio, mas sorria o ar do amanhã. Júlio resplandecia seu sorriso com pegadas em sua cintura. O segundo gozo veio como águas que acabam de nascer; lágrimas de uma criança desesperada, e eram muitas.


ANTÔNIA

Antônia queixava-se da vida a todo tempo; quando estava dia procurava manter-se longe de tudo e de todos para que pudesse murmurar secretamente sobre o que pretenderia fazer para ser a preferida e quando era noite procurava ficar longe de das irmãs para ficar perto apenas do pai. Não descia mais para a o jantar, não falava mais com ninguém durante o dia. E a intensão era essa: fazer todos acreditarem que estava doente.

Certo domingo quando Carolina havia saído com Júlio para ir à missa matinal – A casa já estava toda arrumada e não tinha ninguém – Antônia procurou imitar a irmã, vestindo suas roupas, calçando seus sapatos, usando seus batons e desfilando com os guarda-chuvas mais caros de Carolina. Vestiu o vestido de casamento que estava dobrado em uma gaveta e se olhou no espelho:

- Eu sou mais linda que você, Carolina! Eu sou mais cheirosa. O meu perfume é mais caro que o seu!

- Os meus beijos são melhores do que os seus, Carolina! Mas você tem o homem e a vida que eu queria ter e ainda por fim vai ter toda a herança para você! Que boa sorte você tem!

Pensava Alto de frente para o espelho. Ninguém ouvia essas palavras, apenas os cabides, a maçaneta e a porta.

Subiu em cima da cama de Carolina, ligou a vitrola e começou uma melodia. Dançou valsa em cima da cama da irmã com os pés sujos e um cabo de vassoura em que se apoiava como se fosse um companheiro.

Em um grande delírio imaginou estar se casando em frente toda a família e amigos de escola, imaginou ser a rainha da Inglaterra, pensou em ser Joana D’Arc e finalmente caiu seu nítido pensamento: - o que estou eu fazendo aqui parecendo uma camponesa suja e deslavada? Nem banho matinal eu tomei!

Após sair do quarto de Carolina e deixar tudo bagunçado. De cabelo todo espalhado e roupas todas amassadas Antônia vê Marcelina em seu quarto e pergunta a ela sobre os estudos:

Antônia:

- Minha irmã, por que voltaste? Não fora feliz na França? E os seus estudos terminou-os?

Marcelina:

- Graças eu os terminei! Fiz curso de belas damas.

Antônia:

- Fico feliz! E os pretendente?

Marcelina:

- Não tenho, não estou disposta a namorar ainda!

Antônia:

- Acho que vás se interessar com o que eu vou te falar!

Marcelina:

- Fale-me! Fiquei querendo saber!

Após ficar sabendo o estado de saúde de seu pai, D. Ameixa, Marcelina senta na divã de seu quarto e tirando as luvas das mãos começa a chorar. Suas lágrimas eram como águas cristalinas que se moviam. Seu cabelo suado era ruivo, sua pele era branca feito a areia de uma praia e seu semblante era de uma moça frágil e donzela. E Antônia admirou, analisou e se perdeu em quanta beleza um homem poderia ficar fascinado em poder estar amando sua irmã Marcelina.

Antônia estava realmente disposta a acabar com a reputação de Carolina, foi assim que ela criou a grande ideia de aproximar Marcelina e Júlio às escondidas da irmã.

- Se eu apresentar casualmente Júlio à Marcelina talvez haja alguma paixão entre eles. Preciso relatar isso ao Diogo.

Júlio tinha acabado de chegar com Carolina e D. Ameixa da missa e encontra Diogo no jardim. Este o chama para conversar.

Diogo:

- Senhor Júlio, tenha um instante para dar-me atenção?

Júlio:

- Claro! Seja Breve.

Diogo:

- Eu nunca o tinha falado, mas você realmente ama a Carolina?

Júlio:

- O que é isto, meu caro? Está duvidando ou está interessado nela?

- Diga-me imediatamente!

Diogo:

- Não entenda demais! Eu apenas lhe fazendo uma pergunta! Mas vou ser franco, tem uma pessoa que quer falar demais com você!


Júlio:

- Claro que a amo! Mais que a mim mesmo! E quem é tal pessoa? Uma dama ou um cavalheiro?

Diogo:

- Saberás meu caro Júlio! Venha tu meia noite ao jardim e saberás de quem se trata! Uma coisa eu te adianto: é uma dama.

Antônia, pela janela, vê que o plano realmente vai dar certo quando Marcelina aceita se encontrar com certo pretendente que havia se declarado para ela indiretamente pela sua irmã. Sem saber de que se tratava de uma farsa, à meia noite Marcelina se dispunha no jardim com a melhor roupa e o melhor perfume. Encontrou com Júlio sentado em um banco e lhe vendou os olhos com as mãos. Estava escuro e ela ainda não sabia quem era o homem. Júlio achava que era Carolina então, sem saber, pegou Marcelina e a beijou.

Antônia olhava tudo pela janela do seu quarto juntamente com Diogo. Pensou duas vezes antes de iluminar o jardim e fazer um escândalo e preferiu deixar tudo em silêncio. Pois sabia que quanto mais tempo durasse o adultério mais D. Ameixa e Carolina não iriam perdoar. A reputação de Carolina poderia acabar perante a sociedade e a de Marcelina também. Mais uma vez, Antônia saiu da janela, ligou a vitrola e começou a dançar valsa com Diogo. Os dois comemoraram o ato de vilania com uma boa garrafa de vinho e se deitaram, começaram a rir e logo caíram no sono.

Carolina acaba acordando com o alto rangido que estava acontecendo no banco que ficava no jardim. Nota que Júlio não estava presente no quarto e resolve descer para saber se o marido estava na cozinha ou na sala. Ao percorrer toda a casa ela decide, então, sair para o jardim e ver que barulho era aquele; pôs uma luva nas mãos, calçou uma sapatilha fina. Mas foi interrompida por Estela ao tentar sair.

Estela:

- Que vás fazer lá fora, dona Carolina?

Carolina:

- Irei procurar por Júlio. Ele está sumido desde ontem à noite e já são quatro da manhã!

Estela:

- Não saia, Dona Carolina, o jardim não está iluminado e a senhora pode se acidentar!

Carolina:

- Mas eu preciso achar Júlio!

Estela:

- Acalme-se, dona Carolina, ele deve ter saído para ir à farmácia comprar algum medicamento!

Com todo o inocente discurso de dona Estela, Carolina se convence e acaba voltando para cama esperar pelo marido. Como não estava conseguindo dormir, resolveu preparar um chá de maracujá e finalmente conseguiu alcançar o estado de tranquilidade e dormiu. Enquanto isso Júlio estava mantendo relações sexuais com Marcelina no jardim e o barulho do banco incomodava a todos, mas o jardim escuro os escondia. A noite foi intensa e só com o clarear do dia ambos se viram. O susto foi tremendo. Júlio chegou a cair no chão e Marcelina desmaiou. Hortência, que passeava com alguns cachorros pelo jardim, acabou vendo Júlio despido.

Antônia finalmente se vangloria da ocasião juntamente com Diogo e garante que conseguirá fazer com que D. Ameixa mude sua concepção com Carolina e Júlio e até mesmo Marcelina. Um pouco mais tarde Antônia desce com Diogo e vão até o banco onde estavam Júlio e Marcelina.

Antônia:

- Preste atenção, meu amor! Seremos ricos!

Diogo:

- Vá com mais calma, minha ninfa! Precisamos ser mais discretos.

Antônia:

- Nós vamos ser ricos, vamos raspar a fortuna do velho e deixar essas irmãs na miséria! Creia, isso vai dar certo.

Diogo:

- Não é assim tão fácil! Lembre você tem mais três irmãs para derrubar.

Antônia:

- Carolina e Marcelina eu já tirei de letra. Hortência será fácil também, pois só é encher de minhoca a cabeça da beata. Carlota não será fácil, mas com a sua ajuda eu conseguirei!


Com muita euforia, Antônia se agita, começa a rir desesperadamente como se o mundo fosse acabar. Revelou ser uma piada o casamento de Carolina e Júlio e a reputação de Marcelina.

- Sabe o que vai acontecer agora, querido Diogo? Hã? Eles vão comer aqui na minha mão! Papai vai saber de tudo.

- Bora apostar quem chega primeiro na rua? Bora sair correndo a Matacavalos todinha?

E foi com muita distração que Antônia pisou no cocô de cachorro (cachorro com que Hortência passeava logo cedo) que estava no jardim e terminou caindo de costa no chão. Antônia começa a se desesperar quando viu sua roupa suja de fezes e Diogo cai na risada. Enquanto isso D. Ameixa recebia uma visita de negócios e os acionistas terminaram vendo Antônia suja de excremento e o cheiro empestou a sala.

MARCELINA


Marcelina estava com certo peso na consciência pelo fato que tinha ocorrido entre Júlio e ela; Esta resolve ir visitar Perpétua, a cartomante que previu um futuro não proveitoso para Carolina, e desabafa sobre o que aconteceu para ela. Perpétua se assusta, incialmente, com o que estava acontecendo, pois nunca tinha acertado visão alguma. – Aliás, sendo franco com você, caro leitor, Perpétua era uma vigarista que conseguia dinheiro enganado as pessoas - Marcelina chora, mas não se diz arrependida pela noite que passou com Júlio, pois ela tinha despertado interesse por ele. A cartomante aconselha ela ir falar com Júlio e perguntar se ele sentiu algo recíproco.

Perpétua:

- Vá, minha filha! Pergunte a ele se ele gostou de você. Se sim, lute por esse amor, pois ele provavelmente será mais verdadeiro do que o amor dele pela sua irmã. Se não, abandone essa ideia, pois este amor será impossível.

Marcelina:

- Obrigado, dona Perpétua! Tome o seu dinheiro.

Olhando para a carteira de Marcelina, Perpétua acaba convencendo-a de que lhe dando todo o dinheiro da carteira a resposta tenderia mais provavelmente ao sim. Sem pensar duas vezes, Marcelina entrega até as joias que lhe tinha pelo corpo. Marcelina volta para casa e sobe para o seu quarto, cai no choro novamente, e decide ir até o quarto de Carolina para conversar com a irmã sobre o ocorrido.

D. Ameixa que estava todo arrumado para sair para uma reunião a negócios com um empresários australianos de tecidos acaba vendo a filha chorando dentro do quarto dela e resolve conversar com a filha.

D. Ameixa:

- O que foi minha filha? O que lhe passa logo tão cedo? Por que choras?

Marcelina:

- Não foi nada meu querido pai! Estou chorando apenas por que lembrei que eu ainda não tinha falado com o senhor desde quando eu cheguei de viagem.

D. Ameixa:

- Oh! Minha filha! vem dar um abraço no seu velho pai que logo não estará mais aqui com vocês.

Marcelina:

- Está insinuando o que Papai? Está doente ou algo parecido?

D. Ameixa:

- Não se preocupe filha minha, seu pai tem uma saúde de ferro!


Marcelina abraça o pai de maneira ofegante, como uma filha que precisa de consolo. D. Ameixa percebeu sua tristeza, mas resolveu deixa a filha sozinha e em paz.

D. Ameixa:

- Filha, eu vou ter que me ausentar! Hortência e Carlota estão aí, se precisar falar com alguém fale com elas, pois Carolina saiu e Antônia desapareceu com o Diogo. Ah, lembrei! Júlio está aí também! Não fique sozinha, procure falar com alguém.

Um turbilhão de pensamentos passa pelo pensamento de Marcelina nesse momento. Agora que estava praticamente sozinha em casa com Júlio teria que tomar cuidado com ele para que o episódio amoroso não repetisse. Marcelina resolve sair para ir à biblioteca municipal e no rol da casa encontra com Júlio em frente ao quarto do casal. Seu coração acelera, seu rosto acaba ficando mais pálido que o normal, seus pés ficam estremecidos. Júlio olha fixamente para Marcelina e fala com uma voz grave:

- Marcelina, entre aqui!

Marcelina por impulso acaba aceitando o convite e se beija com Júlio novamente. Horas depois, encontravam-se os dois deitados debaixo dos lençóis.

Marcelina

- Por que eu aceitei fazer amor com você de novo? Não está satisfeito com a minha irmã?

Júlio:

- Você me ama Marcelina, eu sei! Eu gosto de você agora. Sua irmã não me levanta mais as emoções.

Marcelina:

- Isso é completamente errado, você é casado com ela! Eu gosto, confesso. Mas me sinto mal com toda essa situação.

Júlio:

- Beije-me, não diga mais nada!

Marcelina:

- Beijo Sim! Faço o que você quiser!


Foi assim que Marcelina começou a manter um relacionamento extraconjugal com Júlio. Júlio já se encontrava completamente apaixonado por Marcelina e não por Carolina, com relação a esta ele já a rejeitava amorosamente e se negava a tocá-la.

Carlota volta para casa depois de um dia fora no Clube feminino do Rio de Janeiro. Pegou uma carroça para a casa. Quando caminhava pelo jardim acaba ouvindo Antônia falando toda a situação para Diogo sobre D. Ameixa. Carlota se esconde atrás de uma árvore para ouvir melhor e consegue ouvir completamente todo os planos de Antônia para conseguir a fortuna do pai.

Ao aparecer uma aranha descendo numa teia bem em frente o seu rosto. Carlota sai gritando e Antônia vê que ela estava escutando. Muito depois, Carlota invade o quarto de Antônia e a coloca contra a parede.

- Então você estava querendo me entregar para meu pai por causa dessa suposta herança que ele vai dar à Carolina?

- Tu achas mesmo que consegue ser mais esperta que eu? Nojenta! Agora, você vai ver que toca o baião nessa casa.

Carlota sai do quarto de Antônia e entra no quarto de Marcelina e decide falar coma irmã sobre o adultério entre ela e Júlio:

- Minha irmã! Marcelina, diga-me por que você está tendo esse caso com o seu cunhado? Diga-me tudo!

Marcelina fica imóvel por alguns minutos com uma projeção de cinismo no rosto. Tenta driblar a irmã dizendo que essa história nunca tinha existido, mas não consegue.

Carlota:

- Sua Meretriz! Mulher vivida se faz de santa, mas fica de adultério com o próprio marido da sua imã? Pois bem agora você vai fazer tudo o que eu mandar para não ser revelada.

Marcelina:

- Cala-te, Carlota! Não tem o direito de me ameaçar dessa forma. Se eu estou ou não tendo um caso com Júlio isso é problema meu! Apenas meu.

Carlota:

- Então, eu tenho que perguntar do meu pai, o senhor D. Ameixa Augusto de Farrapos, se o seu problema realmente é só seu!

Marcelina:

- Está bem eu me entrego! Diga-me o que queres que eu faça.

Carlota:

- Menina esperta! Eu sabia que entenderia essa situação! Quero que se livre do Diogo para mim.

Marcelina:

- Se livrar dele? Está louca, Carlota? Queres tu que eu mate o meu cunhado?

Carlota:

- Não, menina, eu quero apenas que afaste esse delinquente da nossa família. Pois você ainda não sabe o que a Antônia estava planejando com ele. Você sabia ou não sabia?

Marcelina:

- Não, diga-me.

Carlota:

- Melhor não saber agora.

Durante um jantar em família, estavam todos à mesa. De repente um tiro é ouvido do jardim da casa, todos desesperados correm para ver o que era. Marcelina coloca um saco de dinheiro na bolsa de Diogo. D. Ameixa acaba dando falta de suas economias no cofre e acha o dinheiro com Diogo. Ele acaba sendo preso na mesma hora. Antônia entra em desespero e faz um escândalo na delegacia para qual Diogo foi levado.

Horas depois Marcelina sobe para o seu quarto e Júlio entra escondido. Novamente os dois fazem amor às escondidas. Carolina, triste como sumiço do marido, resolve ir dormir e não esperar pelo marido.


HORTÊNCIA


Hortência é considerada pelo seu pai, D. Ameixa, a filha mais sábia de todas as outras quatro. Ele a via como a filha de ouro, em que tudo é prestativa, conselheira e amiga. Até os seus doze anos de idade, vivia abraçada com o pai como se fosse morrer no dia seguinte; sofria de insônia e costumava dormir tarde. No bairro era conhecida como a menina do véu, pois sempre saía de casa somente para ir à igreja vestida com um vestido branco e um véu que cobria seu rosto inteiramente. Na sua juventude decidiu sair da vida religiosa e abandonar de vez a vida social; deixou de visitar o parque, ir à igreja, caminhar pela rua e conversar com pessoas que não a conhecesse. Hortência passou a infância escondendo um romance do pai; enamorava Elias, um jovem um pouco mais experiente. Em 1865, foi madrinha de casamento de Carolina – casamento que só teve a presença da madrinha – e se consagrou para viver uma fase mais respeitosa de sua vida. Hortência além de sábia também era muito observadora, pois analisava cada suspeita de suas irmãs, mais precisamente ficava alerta em relação à Carlota e Antônia; pois era a dupla de irmãs que infernizavam a vida de seu pai D. Ameixa. Um de seus dias, na varanda de seu quarto, Hortência observava o voar dos pássaros e pensava consigo mesma como poderia o homem ser tão cruel com a sua própria existência:

- Não está fácil concentrar-me nos meus trabalhos que realizo aqui em casa! Meu pai está passando por um momento difícil de sua vida, está doente! Certamente minhas irmãs devem estar disputando entre si com que ficará a toda a herança. Não digo respeito de mim, sou uma pessoa que sonha ter uma família e fazer o bem para todos. Não brigo por dinheiro, seria-me fútil.

- Como o homem, o ser humano, consegue ser tão mal com a sua própria existência? Não seria inteligente brigar por algo que não levaremos conosco após a morte ou que fará amenizar nossas angústias por cada erro cometido em vida. Prefiro continuar passando o bom do meu caráter, pois estarei garantindo bons amigos! Isso é o que importa!

Não era muito de se esperar que uma bela mola ficasse filosofando pelos cantos da casa como se fosse um segundo Aristóteles ou Quincas Borba. Hortência, na verdade, escondia por trás da fama de boa um caráter libertino; de mulher saída em suas atitudes mais ousadas. Nas escondidas de seu pai, aos domingos à noite, bem na hora da missa, desviava caminho com a Bíblia debaixo do braço e ia em direção a um afastado com Elias para namorar no escurinho que ficava depois do crepúsculo diário. Mentiras eram poucas. Hortência tinha um grande fetiche: casar-se cedo para trair o marido. Em algumas das vezes que se encontrou com Elias, Hortência insinuava com volúpia:

Hortência:

- Namora-me mais! Não vá embora, ainda estou querendo sua presença. Quero você aqui comigo. Estou carente, tanto tempo passo presa debaixo de um vestido e um véu. Minha sede é tanta que pediria dois maridos se fosse preciso! Falou ironicamente.

Elias:

- Não te preocupe, minha dama! Também estou morrendo de vontades de ficar aqui com você. Quero você a noite toda. Venha para a minha casa?

Hortência:

- Não posso meu pai não permite! Vim apenas para a igreja e já estou de passagem. Não aguentava mais ficar sem você. Adoro esse seu corpo. Deixa-me com um olhar de volúpia toda vez que eu o vejo.

Elias:

- Que dó minha donzela, adoraria amá-la livremente em minha casa! Pretendo ser o seu futuro marido se me permitir. Amo-te desde quando éramos meninos. Respondeu desconfiado.

Hortência:

- Sabes que o que eu sinto por você é o mesmo. Quero ser sua futura esposa. Logo serei, confie em mim. Conquistarei meu pai a seu favor.

Hortência mal sabia que seu pai D. Ameixa aprovava o namoro seu com Elias porque ele era proveniente de uma família nobre também. Outra coisa que Hortência também não tinha noção era de que o seu pai havia contratado uma detetive para investigar cada passo seu. Era uma velha vendedora de cocadas que trabalhava nas ruas vendendo aos domingos após as missas, seu nome era Dona Crisálida. Esta não tinha bom funcionamento de sua memória, toda vez que D. Ameixa procurava saber sobre Hortência ela inventava; porém sempre contava boas informações de dela para D. Ameixa. Supostamente observava uma menina parecida com Hortência que vinha para a igreja todo domingo.

Outro ponto fraco de Hortência, além do amor, agora em relação a sua família, era o trabalho doméstico que era executado por alguns serviçais contratados. Raramente Hortência permanecia parada como uma dama da alta sociedade. Pelo contrário, ela amava colocar uma espécie de bata e sair esfregando o chão, tirando as poeiras dos objetos ilustres da grande casa. Muitas vezes fazia tanto que até mesmo os empregados descansavam em suas costas. Hortência estava em guerra com Carlota, pois misteriosamente tinha descoberto que ela estava chantageando sua irmã Marcelina por alguma causa.

Carlota e Hortência eram grandes irmãs, mas também grandes inimigas; pois esta sempre jogou na cara de sua irmã todos os seus erros e falhas. Carlota odiava a sinceridade de Hortência e o bom comportamento dela diante do pai. Durante uma discussão intensa entre as duas, Hortência acaba descobrindo o grande motivo pelo qual Carlota estava chantageando Marcelina. Mas só não sabia do que o ela era capaz para afastar seus desafetos de seus planos. Após isso, Hortência resolveu procurar a irmã Marcelina e pedir de vez que acabasse seu romance com Júlio e a irmã não a obedeceu.

Enquanto isso Carlota se remoía de raiva por acreditar que estava perdendo para Hortência em questão de conversa. Ninguém mais no mundo teria o poder de entregar todos seus planos para o seu pai D. Ameixa do que Hortência, pois era a filha adorada e idolatrada. Carlota, pouco tempo depois, estava em seu quarto pensando consigo mesma até ver uma vassoura atrás da porta; pegou e subiu em cima da vassoura; imitou uma bruxa, fingiu ser uma grande rainha que lutava para acabar com os aventureiros da terra perdida; batia nas suas nádegas como se estivesse montada em um cavalo; rodopiava feito um peão; girou até cair no chão. Após o ato Carlota ganhou forças para humilhar Hortência com palavras frias e secas.

Carlota:

- Venha até mim e me escute irmã insolente! Você não presta, seu espírito cheira a carne indecente, tem rumor de traição. Sua Meretriz, você é vendida, pensa que me engana? Pode até enganar o nosso pai, mas a mim não.

Hortência:

- Cala-te, você também é uma pessoa errada. A mais errada de todas entre nós. Até na Antônia você já passou a perna.

Carlota:

- Eu sou linda, minha irmã! Nasci com um privilégio divino, nasci com os cabelos cor-de-ouro. Sou poderosa, posso tudo!

Hortência:

- Quem te garante? Isso não dirá o seu caráter! Sua má pessoa.

Carlota:

- Eu confio nas minhas atitudes! Biboca do céu está comigo. Não se intrometa nos meus planos que não te fará bem, pretendo descartar todas vocês.

Hortência:

- Então tu tens menos um obstáculo em seu caminho! Eu! Eu não luto pela herança do meu pai! Quero apenas que ele fique para sempre conosco!

Hortência deixa Carlota falando sozinha na sala e vai para o seu quarto; mas enquanto subia para o seu quarto, quando estava subindo a escada, ouvi um barulho vindo do quarto de seu pai; parecia um tombo; apressou seus passos e foi em direção ao quarto, bateu à porta e ninguém abriu. Entrou e viu seu pai caído no chão. Gritou. Carlota e Estela subiram para ajuda-la a socorrê-lo. Uma hora depois e depois de ter dormido bastante, D. Ameixa aparentava um rosto pálido. Recebeu a visita do doutor Dallas. Estava com o início de uma tuberculose; precisaria ser internado em um hospital, mas D. Ameixa preferiu ficar em casa aos cuidados de Estela; disse que se fosse preciso chamaria o médico novamente. Hortência o contagiou com alegria ao contar que queria casa-se com Elias. D. Ameixa aceitou, já que era uma felicidade da filha.

Hortência organizou um jantar; era uma noite bastante fria e seu pai D. Ameixa não estava se sentindo muito bem, tossia muito e estava pálido, mas mesmo assim desceu para prestigiar com a família. Carlota estava ávida, queria que o pai tivesse uma grande decepção com Hortência; viu, então, ocasionalmente, sua irmã Hortência de conversa com Marcelo, o amigo de infância de Elias. Parecia ser uma conversa reveladora, pois o que foi revelado era que Hortência mantinha um caso com Marcelo escondido do seu namorado. Elias estava muito feliz com toda aquela organização e a felicidade resplandecia em seus semblantes; era tudo muito novo e bem estranho; saber que D. Ameixa o aceitava sem problemas. Foi então que Carlota o surpreendeu com um aviso.

- Vá ao Jardim, meu futuro cunhado! Verá que seu grande amor está te traindo mesmo antes de terem casado! É um aviso de amiga! Eu aqui.

Elias levanta-se do seu assento e vai em direção a uma janela onde as cortinas se pairavam levemente. Aos poucos, via-se de longe, o beijo entre Marcelina e Marcelo. Elias, por um momento, deixou cair uma lágrima de seus olhos covardes que pareciam querer ter orgulho para não chorar. Olhou para Carlota rapidamente e virou-se para um lado da sala onde havia uma gaveta; pegou um revólver de D. Ameixa e foi até o jardim. Da sala de jantar onde estavam todos se ouviu um grande silêncio que predominou por uns minutos. Dois tiros foram disparados feito um assalto. Todos se espantaram, e foram até o local. Elias tinha matado seu amigo e se matado logo em seguida. Uma tragédia que até em folhas de jornais foi parar.

D. Ameixa quis entender toda aquela tragédia e Hortência como não sabia mentir para o pai, contou-lhe que guardava um romance com Marcelo e pretendia prolongá-lo após seu casamento com Elias. Todos estavam muito assustados com aquela cena de horror; sangue para todos os lados, dois corpos jogados no chão, um revólver na mão de Elias. Tudo parecia um inferno para D. Ameixa. Não podia ficar pior, sua saúde estava abalada, sua concepção com Hortência tinha acabado de mudar, seus olhos começaram a embaçar e seu corpo enfraqueceu. Desmaiou, e foi levado para o quarto. Quando acordou, viu-se Hortência e Estela próximas a sua cama. Carolina foi a primeira pessoa por quem perguntou. Estela respondeu que ela estava ausente e que tinha precisado providenciar o velório de Elias e Marcelo.

Hortência estava em estado de choque, mas mesmo sabendo da possível rejeição do pai; procurou pedir-lhe perdão. Foi rejeitada por D. Ameixa e foi expulsa do quarto dele. D. Ameixa estava profundamente decepcionado com as suas filhas; todas estavam errando feio. Não eram de competência para receber seu patrimônio e suas empresas como herança. Carlota e Carolina foram as únicas filhas que não visão dele eram as únicas dignas de receber, porém como Carolina havia se casado; restava apenas Carlota como a herdeira principal. Marcelina, para D. Ameixa, era uma menina muito nova e incapaz de competir. Foi então que resolveu conversar com Estela e mudar o testamento.

Hortência, após ser ignorada pelo pai, decidiu trancar-se no seu quarto e refletir sobre o seu erro. Fechou os olhos e deitou-se. No outro dia resolveu ir para um convento e contou apenas para Estela. Foi-se sem olhar para trás. Marcelina, mesmo não estando muito próxima da irmã, deu-lhe um beijo antes de sair e prometeu que deixaria Júlio; ao ouvir, Hortência fez pouco caso e saiu sem dizer nada, pois sabia que ela não deixaria. D. Ameixa adoeceu ainda mais com a saída de Hortência, certo dia, caiu da escada e bateu a cabeça. Ficou impossibilitado de andar e falar por um longo período. A tuberculose aumentou e teve que ficar de cama e aos cuidados de Estela. Carlota não queria saber do pai, procurou um advogado para interditá-lo e conseguiu.


CARLOTA


D. Ameixa estava em estado vegetativo no seu quarto; precisava ir para um hospital, porém Carlota tomava conta do seu dinheiro e não permitiu que seu pai saísse da casa para nada. Fez várias mudanças; expulsou Carolina, Marcelina e Antônia da casa. Restou apenas Estela e fez dela uma empregada sem salário. Esta continuava a trabalhar, pois D. Ameixa era o seu melhor amigo. Carlota fez seu próprio pai comer o pão que o diabo amassou. Servia água quente para se pai beber e só dava-lhe água quando ele gemia de sede. Estela era obrigada a ferver um litro de água e dar para D. Ameixa tomar. D. Ameixa passou a comer na tigela onde os cães e os gatos comiam, mas não foi somente o recipiente. Carlota dava ração moída para ele comer e apenas. Em dois meses nesse estado, D. Ameixa envelheceu vinte anos; ficou velho e rugoso.


Estela era ameaçada de morte constantemente por Carlota; servia desde o café da manhã até o jantar da vigarista. Era recompensada apenas pela moradia que lhe era oferecida naquela casa. Carlota, além de ter proibido Estela de visitar D. Ameixa enquanto não lhe permitisse, ordenou que deixasse todas as janelas do quarto de seu pai aberta durante a noite para que o frio pudesse entrar e lhe prejudicasse ainda mais. Assim o fez, D. Ameixa ficou ainda pior, estava em seus últimos momentos de vida ali naquele quarto.

Amigos, Vizinhos e conhecidos tentavam ver D. Ameixa, mas Carlota proibia a entrada de qualquer pessoa na residência. Somente Estela podia entrar, mas sem poder entrar em contato com D. Ameixa. Certo dia, Carlota entrou em seu quarto e deu-lhe um golpe com cinto. Seu pai só podia ouvir a fúria da filha:

- Eu odeio você D. Ameixa! Eu odeio você! Se você está sofrendo aqui é porque você foi um canalha comigo! Sempre me rejeitava quando eu era uma menina! Amava todas as minhas irmãs, sua preferida sempre foi a Carolina! Você só me fazia chorar!

- Eu queria tanto poder ter te matado rapidamente, mas não, eu preferi ver você sofrendo. Eu quero vingança, sei que você matou a minha mãe antes de você me adotar, Estela me contou tudo.

- Você era dono de uma grande empresa, fábrica de vassouras. Minha mãe estava grávida de mim e o senhor a demitiu. Como ela implorou para ficar no emprego porque não tinha onde cair morta. Você a empurrou fazendo com que ela batesse a cabeça e morresse.

- Você é um monstro, D. Ameixa! Você foi meu pai durante a vida toda, mas eu nunca gostei de você! Com todas as minhas certezas você também deve ter matado as mães das minhas irmãs, não é mesmo?

- Pena que não pode falar, eu queria muito poder ouvir suas mentiras. Esse cinto aqui eu achei em uma gaveta aqui no seu quarto. Era o cinto que você usava para me espancar quando eu quebrava uma boneca da Carolina.

- Bonecas que você dava para ela, só para ela. Não me dava nenhuma. Falou com lágrimas nos olhos.

Carlota dá dois golpes de cinto em seu pai, nas pernas dele. Outros dois em seus braços. A dor era tanta que mesmo estando inválido, D. Ameixa se revirou e caiu da cama. Aparentava ter manchas no rosto, pele sofrida e marcas pelo corpo. Levou uma surra nas costas e ficou atirado no chão como se fosse um embriagado. Carlota continuou seu discurso enfadonho e falou:

- Na mesma rapidez com que você matou a minha mãe, eu te matarei com essas lapadas. Sinta a dor!

Estela foi capaz de ouvir o barulho e chamou a polícia. Carlota incendiou a casa, mas D. Ameixa já se encontrava morto. Tudo foi rápido, apenas deu tempo de Estela fugir pela porta dos fundos e se salvar. Da casa nada sobrou; somente as cinzas. Carlota teve o fim que tanto merecia; morreu queimada quando uma viga que estava pegando fogo caiu sobre si. As outras irmãs se separaram e nunca mais se tiveram notícias, a única coisa que se sabe é que Júlio decidiu ficar com Marcelina e Carolina foi morar no sul. Antônia e Diogo se mudaram para o norte e viraram vendedores de charque. Estela se juntou com Hortência para fundar um orfanato para crianças carentes e esse foi o final de um conto que deixa no ar um homem injustiçado. Morto pela própria filha. Um homem que na verdade não matou ninguém, foi honesto por durante toda a sua vida.

D. Ameixa foi uma criança muito pobre e engraxava sapatos com a sua mãe no centro do Rio de Janeiro. Teve a sua mãe morta em um atropelamento quando iriam viajar para o Ceará. Permaneceu, então, no Rio de Janeiro e voltou a engraxar sapatos e passou a vender canetas de luxo. Cresceu na vida e construiu seu próprio patrimônio com muito esforço e desafios. Foi injustiçado por matar uma mulher, (mãe de Carlota), mas só tinha encontrado ela morta em um dos departamentos da empresa de que era dono. Ela havia caído e batido a cabeça, ao socorrer o contexto maldoso se formou; há quem diga que ela procurava um aumento salarial, pois estava grávida. D. Ameixa deu suporte à filha dela e a colocou em um orfanato, mas logo resolveu adotá-la, pois se sentia só e nunca tivera filhos. Quando a adotou, adotou mais quatro meninas e fez delas uma família.

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